Canudos, Bahia - 2009/2010

112 anos após a guerra, estamos no vilarejo de Canudos Velho.

A viagem é fruto de um projeto musical de três meses que envolve os grupos musicais tradicionais da região, bandas de pífanos e trio de forró com sanfona oito baixos.
Nosso grupo, Mulungu, viaja por essas "varedas" do sertão baiano e redescobre um lugar incrível.
Aqui algumas histórias que temos para contar...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

culinária sertaneja: bode, comida de macho



em canudos, come-se bode. e como já faz um certo tempo, chamam de tradição.
sob esse nome, algumas práticas tendem a ser defendidas como algo necessariamente positivo. e com isso, cria-se a ilusão de resistência.


mas nem tudo. não me lembro de ninguém que tenha, em qualquer época, defendido o canibalismo de nossos índios como uma tradição a ser preservada.
certas tradições não devem ser defendidas.

os bodes e cabras parecem ter uma vida boa e tranquila em pequenos vilarejos como canudos velho. são criados soltos, reproduzem-se naturalmente etc. mas têm uma vida curtíssima: entre um ano e meio e dois anos. esses animais chegam, se têm uma vida normal, até os 25 anos de idade, disse-me seu olímpio, morador do lugar. isso significa que eles vivem menos de dez por cento de sua vida, se fossem homens, seria como se vivessem por seis ou sete anos apenas.

é possível viver em canudos sem comer a carne de bode? sim. prova disso é que nós (bruno e eu) vivemos. e foi incrível ver como as mulheres e crianças que comiam conosco, em nossa casa, perguntavam o tempo todo os nomes dos legumes e verduras que nós tínhamos comprado em um feira local, a mesma em que elas fazem compra. a variedade de legumes e verduras não é tão grande como em são paulo, mas também não é difícil de variar o cardápio sem comer carne. mais forte que a escassez, é o forte costume de substituir grande parte dos alimentos pela carne de bode.


há os que defendam a manutenção desta alimentão como algo caro à tradição e cultura do lugar (vide câmara cascudo, em "viajando o sertão"), e eu assino em baixo, desde que as práticas que prejudicam a saúde das pessoas e a vida dos animais sejam substituídas por outras mais saudáveis e justas.
aprecio cascudo, mas é preciso reconhecer que é ignorância endossar a idéia de que "quem come folha é lagarta", e que a carne é o alimento viril que faz com que o homem tenha a resistência necessária em um ambiente hostil.
pura ignorância.

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